Nos episódios anteriores: Roberto começa a receber ameaças por telefone. Carlos conheceu Diego. Nora lançou um livro. Júnior entrou em turnê com a banda. Rebeca abandonou o estágio na Barbosa & Lima, o namorado e o curso. Sara saiu da Andanças para dar aulas.

01. INTERNA – NOITE – APARTAMENTO DE ROBERTO – QUARTO DE CASAL

Roberto estava numa sessão prorrogada na Câmara dos Deputados e Carol estava sozinha com Larissa. Ela não conseguia dormir, por medo, e rolava na cama de um lado para o outro. De repente ela pára e fica encarando o teto com os olhos arregalados: tinha ouvido um barulho estranho. Ela se levanta com um salto e, descalça, olha ao redor, procurando algo grande e pesado. Ela não encontra nada e acaba pegando seu celular.

02. INTERNA – NOITE – APARTAMENTO DE ROBERTO – CORREDOR

Carol andava furtiva pelo corredor seguindo o estranho barulho que ouvia, que mais parecia um uivo. Seu celular, empunhado como uma pedra.

Carol: Que barulho mais estranho! – sussurra.

Ela, de repente, pára. Tinha achado a origem do barulho. Vinha do quarto de Larissa. Ela se acalma, suspirando de alívio, e bate à porta.

Carol: Lissa, posso entrar?

03. INTERNA – NOITE – APARTAMENTO DE ROBERTO – QUARTO DE LARISSA

Larissa: Pode – diz, enxugando as lágrimas.

Carol entra, com pena em seus olhos, e senta-se ao seu lado, em sua cama.

Carol: Por que você está chorando?

Ela se perguntava se de alguma forma ela sabia das ameaças que Roberto vinha recebendo.

Larissa: Eu acabei de sair do telefone…

Carol se alarma, levando as mãos à boca.

Larissa: …com o Gabs!

E ela volta a chorar. Carol afaga seus cabelos.

Carol: Ah, Lissa, vocês brigaram de novo?

Larissa faz que sim com a cabeça, violentamente. Seus cabelos caem sobre o rosto e ficam colados ao rosto molhado de lágrimas. Carol já ia afastá-los quando as duas ouvem um barulho.

Carol: Jesus!

Larissa: Deve ter sido algum dos seguranças. Eu não gosto deles. Bem, eu vou ao banheiro lavar meu rosto.

Carol levanta-se rapidamente e passa Larissa.

Carol: Nada disso. Fica aqui enquanto eu vejo que barulho é esse. E tranque a porta.

Larissa não estava entendendo nada. Carol sai do quarto e fecha a porta.

04. INTERNA – NOITE – APARTAMENTO DE ROBERTO – CORREDOR / SALA

Carol volta a sua jornada furtiva pelos corredores, com celular em punho, preparado para ser arremessado com toda a força que ela tinha. Larissa, que não a obedecera, estava a seguindo, sem fazer barulho. Ela alcança Carol e, para chamá-la sem fazer barulho, encosta em seu ombro. Carol gela, imóvel.

Larissa: Carol?

Carol dá um grito contido.

Carol: Você quase me matou do coração, Larissa! – sussurra.

Larissa: Por que estamos sussurrando? – também sussurra.

Carol: Porque eu ouvi um barulho estranho. E eu mandei você ficar no quarto.

As duas ouvem um barulho maior. Larissa se aproxima de Carol.

Carol: Viu? Eu mandei você ficar no quarto! Fica atrás de mim. Atrás de mim.

As duas foram andando devagar, pé ante pé. Larissa, atrás de Carol. Quando as duas chegam à sala, uma onda de claridade toma conta do lugar. As duas meninas gritam.

Carol: Nossa Senhora!

Carol, de olhos fechados arremessa o telefone. Todos ouvem um barulho surdo e um grito. Carol tinha acertado seu alvo.

Carol: Roberto?!

Roberto estava agachado, com as duas mãos na testa. O telefone de Carol estava no chão, bateria de um lado, tampa de outro, o telefone em si, do outro.

05. INTERNA – DIA – APARTAMENTO DE ROBERTO – COZINHA

Roberto estava sentado no balcão da cozinha, com um saco de gelo colado em sua testa. Carol terminava de passar um café, em silêncio.

Roberto: Sua mira é impressionante. Estava mega escuro – ri.

Carol o ignora.

Roberto: Puxa vida, Carol. Quem deveria estar irritado sou eu, que estou com um galo do tamanho do mundo na testa. Eu deveria estar tirando um raio-X da minha cabeça.

Carol: Não tem graça. Eu fiquei mesmo com medo. Mesmo – ela continuava séria.

Roberto fica impaciente.

Roberto: Nós não vamos ter aquela discussão toda de novo, vamos? Por que se sim, eu prefiro ir à clínica.

Carol vai até ele e tira a bolsa de gelo de sua testa.

Carol: Então vá.

E Carol sai da cozinha.

Roberto: Carol! Carol!

06. INTERNA – DIA – SHOPPING

Rebeca andava com sua câmera pelo shopping. Estava atenta, procurando cliques para fazer, mas não gostava do que via. Preferiu sair do local. Na saída, esbarra numa mulher.

Rebeca: Perdão.

Leila: Imagina, minha culp… Rebeca?

Rebeca fica olhando para a mulher que a reconheceu e tenta se recordar.

Rebeca: Laila?

Leila: Leila!

Rebeca: Leila, isso! Foi quase. Nossa, como você está?

Leila: Nervosa, atarefada, quase tendo um colapso.

Rebeca: Nossa. Muito trabalho?

Leila: Não. Casamento mesmo.

Rebeca: Que ótimo! Vai casar com o Abraão?

Leila: Na verdade é outro. Aquele galinha enfeitava a minha cabeça com vários artefatos pontiagudos.

Rebeca: Ai, que chato.

Leila: Nem é! Se não fosse por ele, não teria conhecido o amor da minha… Olha. – diz, tirando uma fotografia sua com seu noivo de uma sacola. – André o nome dele.

Rebeca: Hum… bonito! Parabéns! Mas quem fez essa foto? – diz, analisando a qualidade da foto.

Leila: Foi um homem que contratei de última hora. Você acredita que, na correria, o último contrato que fechei foi o do fotógrafo?

Rebeca: E eu diria que é uma das partes mais importantes da noite. – diz, mostrando a câmera para Leila.

Leila: Você é fotógrafa? E o Direito?

Rebeca: Não profissional, mas estou me especializando. O Direito vai ter que esperar… Por muito tempo, eu acho.

Leila: Ah! Se eu soubesse que você fotografava, eu teria te chamado!

Rebeca: Fica pro batismo do primeiro filho.

Leila: Dos primeiros, pois serão gêmeos, se Deus quiser.

As duas riem.

Leila: Me dá o seu telefone, precisamos sair para reencontrar o pessoal do colégio. Como será que está aquele pessoal? Outro dia encontrei com a Nara numa fila de banco. Lembra da Nara, aquela japonesinha?

Rebeca: Lembro! Anota aí… 9259…

As duas trocam os seus telefones e se despedem.

07. INTERNA – DIA – B&L – ESCRITÓRIO DE CARLOS

Carlos estava encarando o telefone. De repente ele toca, assustando-o.

Carlos: Alô?

Diego: Oi… Desculpa te ligar sem avisar…

Carlos: Você avisou que ligaria.

Diego: Avisei? É…

Carlos: É. E ligou. Então fala.

Diego ri nervoso.

Carlos: Desculpa. Não quis ser ignorante. Tive um dia cheio.

Diego: Eu também. Estava afim de conversar.

Carlos: Claro. Quando você está livre?

Diego: Pode ser hoje? Tenho compromisso no final de semana.

Carlos: Ahn… Tudo bem.

Os dois combinam o lugar e Carlos desliga. Ele estava achando o médico muito evasivo. Mas esquece-se disso quando se arruma pela webcam do seu computador.

08. INTERNA – DIA – APARTAMENTO DE SARA – SALA

Sara folheava diversos encartes de lojas, sentada em seu sofá, enquanto Carol andava de um lado para o outro, tentando chamar a atenção de Sara. Em vão. Ela pára de falar.

Sara: Eu estou te ouvindo. Pode continuar.

Carol desdenha, vai até Sara e pega o encarte de sua mão.

Carol: Então o que eu falei até agora?

Sara: Do seu político bonitão e de como ele é dedicado.

Carol suspira.

Carol: Você não estava prestando atenção­ – diz, sentando-se ao lado da irmã. – E o que tanto você vê nesses encartes?

Sara: Natal.

Carol: Natal? Não é um pouco cedo?

Sara: Eu tenho três filhos. Natal dura o ano inteiro. E além do mais, nós já estamos em novembro e eu já aprendi, da pior maneira, a não deixar para comprar os presentes de última hora.

Carol: Eles ainda escrevem cartinha? Para o Papai Noel… – diz, nostálgica.

Sara: Escrevem! E esse ano eles estão receosos. Fernando não está aqui e eles estão preocupadas se Papai Noel vai encontrá-los se eles passarem o Natal com o pai.

Carol: Eles não vão passar o Natal com você?! – pergunta, abismada.

Sara: Claro que vão! Com todos nós, na casa de mamãe. Talvez Fernando vá.

Carol: Ufa. Não queria estar perto de mamãe de ela soubesse que os netos dela não passariam o Natal com ela. Imagina? Se algum de nós faltasse à ceia?

Sara: Você vinha de São Paulo só para isso!

Carol: Eu sei!

09. INTERNA – DIA – CASA DE NORA – COZINHA

Nora e Saulo conversavam, enquanto almoçavam.

Nora: Eu sei, Saulo. Mas o Natal… o Natal é uma prerrogativa minha. É meu e ninguém tasca.

Saulo: Eu só estou dizendo que talvez eu não possa vir.

Nora: Eu já disse que Vera está mais do que convidada.

Saulo: Para acontecer o que aconteceu no ano passado?

Nora: Aquilo? São águas passadas. Águas passadas. O Natal é aqui ou cabeças vão rolar. Rolar! – diz, apontando a faca para ele. – Até mamãe já está aceitando a situação.

Saulo: Tudo bem, tudo bem. Eu aviso a ela.

Nora: Não seria melhor que eu avisasse?

Saulo a encara e o olhar dele já dizia tudo.

Nora: Está bem, desculpa. Só quis ser prestativa.

Saulo: Hum… Alguma notícia do Júnior?

Nora hesita responder. Para a sua sorte, o telefone toca.

Nora: O telefone! Está tocando. Vou atender e volto já, já.

Nora sai andando rápido.

10. INTERNA – DIA – CASA DE NORA – SALA / INTERNA – ÔNIBUS

Nora vai andando rápido até o telefone.

Nora: Alô?

Júnior: Mãe?

No ônibus de Júnior, seus colegas de banda estava gritando e correndo pelo corredor. Um deles, que estava com a guitarra ligada ao amplificador começa a tocar, o que atrapalha ainda mais a conversa entre Júnior e sua mãe.

Nora: Júnior? Eu não estou conseguindo te ouvir!

Júnior: Mãe? Não estou ouvindo nada.

Nora: Júnior!

Júnior: Mãe, eu não estou te ouvindo direito, então vou falar logo. Eu estou bem. Estou no ônibus agora. Não precisa se preocupar. E eu ouvi as quinze mensagens que você deixou. Estou me divertindo sim, com segurança sim, sem fazer besteiras sim. Não se preocupa com nada. A gente se fala em breve. Tchau.

Yuri: Tchau, mamãe!

Todos gritam mais alto agora, rindo.

Júnior: Cala a boca! – diz, rindo também. E desliga.

Nora: Júnior? Júnior?!

Nora desliga o telefone também.

11. INTERNA – DIA – ANDANÇAS

Tomás estava sobrecarregado. Com a saída de Sara, ele assumiu interinamente a presidência da livraria, até que a Papier se pronunciasse sobre a questão. Os outros funcionários estavam um tanto perdidos e viviam atrás de Tomás, perguntando sua opinião nos mais diversos assuntos.

Eles estava agora voltando do almoço, indo para a sua sala. Sua secretária, Patrícia, lhe atualizava.

Patrícia: A Felipo Consultoria Visual ligou sobre a nova placa. Pediu retorno urgente. Sua irmã ligou também. Duas vezes.

Tomás: Mais alguma coisa?

Um funcionário aparece.

Funcionário 1: Seu Tomás, nós estamos sem papel.

Tomás: Já fez pedido de material ao almoxarifado?

Funcionário 1: Não.

Tomás: É seu primeiro dia aqui?

Funcionário 1: Não.

Tomás: Então…

Funcionário 1: Desculpa – e sai.

Patrícia: Eles ficaram atrás de mim o dia todo perguntando quando você voltaria.

Tomás passa as mãos pelos cabelos.

Tomás: Eles não ficavam atrás dela assim. Não sei o que está acontecendo.

Patrícia: Talvez eles estejam inseguros. Primeiro seu Saulo sai. Agora a Sara. Eles podem estar achando que seja alguma coisa maior.

Tomás: Alguma coisa maior?

Patrícia: É. Alguma coisa que venha de cima.

Tomás compreende.

Patrícia: Talvez seja melhor que você converse com todos eles. Quem sabe assim isso não se resolve?

Tomás: Excelente idéia.

Patrícia: Obrigada.

Tomás: Mais alguma coisa?

Patrícia: Sim. A Papier ligou.

Tomás: Obrigado, Pati.

Patrícia: Estou indo almoçar. Você precisa de mais alguma coisa?

Tomás: Não, obrigado. Pode ir.

Patrícia sai e Tomás retorna a ligação para a Consultoria. Apenas para ela. Não estava nos seus planos falar com Sara tão cedo, afinal, ainda se sentia traído com a decisão da irmã de abandonar a Andanças.

12. INTERNA – DIA – APARTAMENTO DE SARA

Sara estava só no seu apartamento, analisando o plano de aulas. Ela ouve uma conversa alta e risos no corredor e vai ver o que é. Quando ela abre, há um novo casal se mudando para o apartamento em frente.

Vívian: Oi. Boa tarde.

Sara: Boa tarde.

Inácio: Prazer, Inácio e Vívian. Seremos vizinhos.

Sara: Prazer, Sara. Sejam bem-vindos ao prédio.

Vívian: Obrigada.

Sara: Deixa eu ajudar vocês.

Inácio: Imagina, não precisa. Nem temos tanta coisa assim mesmo. Acabamos de nos casar. Estamos começando a nossa vida.

Sara: Fico feliz. Bem, deixa eu voltar pra minha cozinha, meus filhos já estão chegando.

Vívian: Filhos, que legal! Queremos conhecê-los depois. Eles e seu marido.

Sara fica constrangida, mas não diz que está separada. Apenas sorri, se despede e entra. Ela se afasta da porta, mas ainda sim escuta os risos de felicidade do novo casal que começa a sua vida juntos. Ela se pergunta se algum dia voltará a sorrir ao lado de alguém assim. Não era mais segredo que ela estava começando a perder as esperanças.

13. INTERNA – DIA – CORREDORES DA UNIVERSIDADE

Sara precisava de um pincel atômico e foi até a sala vizinha. Ao bater à porta ela repara no professor que estava dando aula ali. Era alto, bem alto. Tinha as laterais dos cabelos bem penteados grisalhas. Usava barba por fazer e roupas sociais. Quando Sara se dá conta, a porta da sala já estava aberta e todos a encaravam.

Sara: Boa noite, professor. Você poderia me emprestar um piloto? E um apagador?

Marcelo: Claro.

Ele foi até a mesa, pegou uma caneta e seu apagador e levou até Sara.

Sara: Obrigada. Devolvo assim que puder.

Marcelo: Vou cobrar, hein? – brinca.

Sara: Pode deixar!

Sara sai, mas continua ouvindo o professor dar aula.

Marcelo: Então? Alguém pode me dizer o que é semiótica?

14. INTERNA – DIA – DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

Sara estava no departamento, arrumando suas coisas. O piloto e o apagador emprestados estavam num canto, separados. Marcelo aparece na salinha.

Marcelo: Opa.

Sara levanta os olhos e o vê.

Sara: Oi! Ah, muito obrigada pelo apagador e pelo piloto. Na outra universidade, eles tinham um pequeno estoque. Agora vi que vou ter que comprar os meus.

Ele recebe o piloto e o apagador.

Marcelo: Faculdade pública é assim mesmo. Você dá aula aonde, além daqui?

Sara: Bulevares. É uma faculdade particular.

Marcelo: Presumi isso quando você falou em estoque de pilotos.

Os dois riem.

Marcelo: Ah, onde está minha educação! Me chamo Marcelo. Fróes.

Sara: Ah, Sara Andrade.

Marcelo: É nova aqui? Não me lembro de ter visto você.

Sara: Primeira semana – diz, passando a mão pelo cabelo.

Marcelo: E aí? Está gostando daqui? Foi bem recebida?

Sara: Com certeza. Dar aulas tem se revelado um desafio para mim. Precisava disso.

Marcelo: Como assim? Você não dava aulas antes?

Sara: Não. Sou professora a seis meses.

Marcelo: E antes você fazia o quê?

Sara: Era co-presidente de uma empresa de pequeno porte.

Marcelo: Nossa! E você trocou isso para dar aulas?!

Sara: É uma paixão antiga. E você não deve desvalorizar sua própria profissão assim…

Marcelo ri.

Marcelo: Mas foi só isso? Uma paixão antiga?

Sara hesita responder, como se estivesse compartilhando demais com um estranho.

Marcelo: Desculpa. Eu não quis…

Sara: Não, tudo bem.

Marcelo: Não, desculpa mesmo. Não tive a intenção.

Sara: Tudo bem.

Marcelo: Vamos recomeçar. Opa! Meu nome é Marcelo Fróes.

Sara começa a rir.

Sara: Sara Andrade.

Marcelo: É nova aqui?

Sara sorri, ele sorri de volta, e ela passa a mão no cabelo de novo.

15. INTERNA – DIA – ÁGORA RJ

Carol bate na porta de seu chefe.

Armando: Pode falar.

Carol: Eu só queria lembra-lo que hoje eu sairei mais cedo.

Armando: Ahn?

Carol: Eu avisei na semana passada e na retrasada. Você disse que não tinha problemas.

Armando: Ah, tá. É para quê mesmo?

Carol: Pesquisa. Eu estou desenvolvendo uma coisa sozinha.

Armando: Uma coisa jornalística?

Carol: É. Pode-se dizer que sim.

Armando: Está tudo bem? Eu quero dizer, você está conseguindo se adaptar aqui?

Carol: Claro, claro! Não é por isso.

Armando: Tudo bem.

Carol: Obrigada.

16. INTERNA – DIA – JAVA CAFÉ

Sara e o professor Marcelo estavam conversando no Java Café, rindo bastante.

Marcelo: Eu juro para você que foi isso mesmo que ele escreveu na prova! Foi tão absurdo que eu simplesmente gravei! – ri.

Sara: Eu nunca encontrei barbaridades assim em provas! Nem nas dos meus filhos.

Marcelo: Você é casada? – pergunta com um leve desapontamento.

Sara: Divorciada. Recém-divorciada. Por isso a busca por paixões antigas – ri.

Marcelo: Compreendo perfeitamente – Sara faz cara de quem não entendeu. – Sou divorciado também.

Sara: Tem filhos?

Marcelo: Uma filha. Luciana – ele pega uma foto na carteira. – 20 anos. Fez aniversário ontem.

Sara: Parabéns para ela. Ela é linda!

Marcelo: É… Puxou ao pai – e pisca para ela. Sara abre um largo sorriso.

17. INTERNA – DIA – JAVA CAFÉ

No segundo andar do Java Café, Carlos estava sentado esperando por Diego. Ele estava atrasado.

Diego: Desculpa o atraso. Tive uma…

Carlos: Emergência?

Diego se senta.

Diego: Isso.

Os dois ficam se olhando.

Carlos: Por que sempre rola um silêncio desconfortável com a gente?

Diego: Desculpa.

Carlos: Não é culpa sua! Bem, não totalmente. É minha também.

Diego sorri. Carlos sorri de volta.

Carlos: E então? Vamos deixar o silêncio dominar isso aqui?

Diego: Você já está fazendo um bom trabalho nisso. E… eu gosto de te ouvir falando – diz, desviando o olhar.

Carlos: Isso é perigoso… Eu sou meio egocêntrico. Se deixar, falo sem parar. O que não seria bom, já que eu também gosto de te ouvir.

Carlos estica sua mão, tentando alcançar a de Diego. Diego deixa, mas retira sua mão logo em seguida. Carlos fica sentido.

17. INTERNA – DIA – JAVA CAFÉ

Carlos e Diego estavam descendo as escadas do café, quando Carlos vê sua irmã ao longe.

Carlos: Droga.

Diego: O que foi?

Carlos: Minha irmã está aqui.

Ao longe, Carlos viu a irmã conversando com um homem.

Diego: Ela não sabe que você é…

Carlos: Sabe, sabe, todo mundo sabe. Droga, ela me viu – ele acena, sorrindo. – E quem está com ela? Uau, ele é lindo!

Diego e Carlos se olham.

Carlos: Você também é, mas…

Diego: Não, ele é lindo sim.

Sara e Marcelo chegam.

Sara: Carlos!

Carlos: Sara!

Sara: Nós temos que começar a freqüentar outros lugares. Parece que só conhecemos esse café. – diz, sorrindo.

Carlos: Com certeza! É… Está fazendo o quê aqui?

Sara: Engraçado… Eu ia te perguntar o mesmo!

O pager de Diego apita. Marcelo pigarreia.

Diego: Ah, droga…

Carlos: Emergência?

Diego: Desculpa! Eu te compenso depois. Prometo. Tchau.

Diego sai rapidamente. Marcelo pigarreia de novo.

Sara: Ui, parece que alguém não teve muito sucesso – diz, cantando a última parte.

Carlos: Não sou só eu – diz cantando também. – Sou Carlos, o irmão dela.

Ele e Marcelo apertam as mãos.

Marcelo: Receio que também tenho que ir, Sara. Obrigado pela tarde. Foi maravilhosa.

Os dois se beijam no rosto. Carlos estava com os olhos arregalados. Marcelo sai.

Sara: Que cara é essa?

Carlos: Olha quem está de namorado novo! – canta.

Sara: Você também!

Carlos: Ele é seu namorado?! – pergunta, animado.

Sara: Não! Não – diz, percebendo o que tinha dito antes. – Não, ele é só um professor da faculdade…

Os dois dão o braço e começam a sair do café.

Carlos: Um professor tudo de bom.

Sara: E o seu médico? Ele é médico, né?

Carlos: É.

Sara: Não consegui parar de olhar pros olhos dele.

Carlos: A gente se perde naquela selva verde.

Sara imita um rugido.

Carlos: Qual o seu problema? – Sara revira os olhos. Carlos continua. – Ele é legal. Mas sei lá… ele me lembra… Alberto Caeiro!

Sara: Fernando Pessoa?!

Carlos: Não. Só Caeiro. Com aquela coisa toda de pegar na flor e soltar depressa.

Sara: Pegar na flor e soltar depressa?! – e começa a gargalhar.

Carlos percebe o duplo sentido e começa a gaguejar.

Carlos: Não… É… Pára de rir! Não foi isso o que eu quis dizer e você sabe. E flor não é uma metáfora que se encaixa no meu caso.

Sara: Oras, a flor tem o androceu!

Carlos: Uau. Androceu. Nossa, Sara. É o quê? Trabalho de Rafa e Du na escola?

Sara: É.

Carlos: O que eu quis dizer é que ele é quer e não quer, sabe? Aquela história de estoicismo e epicurismo… – Sara olha para ele espantada. – Assisti umas aulas de literatura na faculdade. – Ela faz que entende. – Resumindo, ele é meio devagar.

Sara: Vocês gays que são rápidos demais. Talvez ele seja mais tradicional!

Carlos: Vocês gays?! – Carlos pára de andar.

Sara: É! Mas eu gosto de vocês mesmo assim.

Sara dá um beijo na bochecha de Carlos e os dois saem da loja de braços ainda dados.

18. INTERNA – DIA – RESTAURANTE

Carol estava sentada sozinha, numa mesa, esperando que sua companhia chegasse. Ela vê uma movimentação na entrada: acabaram de chegar. Ela acena para eles, que vão até ela.

Carol: Boa tarde, Ricardo. É um prazer conhecê-lo pessoalmente.

Ricardo: Essa é minha esposa, Mariana.

Mariana: Muito prazer.

Carol: É todo meu, Por favor, sentem-se.

O casal se senta. A mulher estava um tanto apreensiva.

Carol: Primeiramente eu gostaria de perguntar se vocês permitem que a nossa conversa seja gravada.

A mulher olha apreensiva para seu marido. Seu olhar dizia que não. O marido pega a mão dela e a massageia, acalmando a esposa. Ele consente. Carol pega um gravador da bolsa e coloca-o em cima da mesa. Ela aperta o botão de gravação.

Carol: Então…

Mariana: Como você nos encontrou? Desculpa interromper…

Carol: Não, tudo bem. Ah… Os militares guardavam registros de alguns dos presos da época. É claro que os militantes estudantis não tiveram praticamente nenhum registro. Logo, o seu foi relativamente difícil de achar. Mas havia um registro. E você ficou, de acordo com eles, três dias e duas noites. Foi isso mesmo o que aconteceu?

Mariana: Não. Meu pai era militar. Nunca cheguei a sair do comboio – uma lágrima do passado passa por seu rosto. – Nunca mais vi meus amigos desde aquele dia.

Carol abre a bolsa e pega uma embalagem de lenços de papel e entrega a Mariana, que enxuga os olhos. Todos estão visivelmente emocionados.

19. INTERNA – DIA – ANDANÇAS – SALA DE TOMÁS

A ligação que Tomás recebera da Papier era para avisá-lo que o presidente viria visita-lo. E o Sr. Sérvulo acabara de chegar.

Tomás: Por favor, Sr. Sérvulo, sente-se.

Sr. Sérvulo: Chame-me Rodrigo. Já fazemos negócios há bastante tempo para esse tipo de formalidade. Sou uma pessoa bastante simples, na verdade.

Tomás: Sim, claro. Rodrigo. Deseja alguma coisa?

Sr. Sérvulo: Não. Bem, Tomás, eu vim aqui para discutir três coisas. A primeira: a saída de seu tio e de sua irmã foi um tanto… polêmica.

Tomás: Não há motivos para polêmica. Os motivos foram inteiramente externos. Meu tio queria criar algo que fosse dele e minha irmã tinha um sonho latente de dar aulas.

Sr. Sérvulo: E seus funcionários sabem disso? Eu não sabia. É imprescindível um clima harmônico. Não apenas para seus funcionários, mas também para seus superiores. Sua irmã e seu tio me procuraram para comunicar suas saídas, mas não ouvi nada de você.

Tomás: Isso não acontecerá de novo.

Sr. Sérvulo: Sei que não. Sei que não. Bem, quanto ao segundo tópico do nosso encontro, acho que está mais que óbvio que você assumirá permanentemente o cargo de presidente da livraria.

Tomás: Sim. Não irei decepcioná-lo.

Sr. Sérvulo: Sei que não.

Tomas: E o terceiro tópico?

Sr. Sérvulo: Ah, sim… Você deve lembrar-se dos termos do nosso contrato de compra e venda, das metas traçadas… Os relatórios que têm vindo não têm sido… Eles são bons. Mas poderiam estar melhores. Quem sabe agora, em seu vôo solo, essa situação não melhore, não é?

Tomás: Sim, com certeza.

Tomás e Sr. Sérvulo se despedem. Depois que ele sai, Tomás passa as mãos pelo cabelo, cansado daquela situação.

20. INTERNA – NOITE – APARTAMENTO DE VERA

Saulo, Vera e Rebeca estavam jantando. Em silêncio.

Vera: E então, Rebeca? Já conseguiu algum trabalho? Com fotografia?

Saulo não tirava os olhos de Vera, vigiando-a.

Rebeca: Não. Ainda não surgiu nada. Ai, ai…

Saulo: O quê?

Rebeca: Nada não. É que uma amiga minha vai casar. Lembra da Leila mãe?

Vera: Acho que sim. Era a… – ela leva as mãos para frente, imitando os peitos enormes da amiga de Rebeca.

Rebeca: Essa mesma! – ri. – Ela está se casando com uma cara super velho. Para ela, é claro. Mas ele é rico, então, o que é idade!

Vera se remexe incomodada na cadeira. Saulo e Rebeca percebem. Rebeca arrepende-se imediatamente do que falou. Saulo tenta mudar de assunto.

Saulo: Rebeca? Tem tido notícias do Júnior?

Rebeca: Na verdade não. Pensei em ligar para Nora hoje e perguntar dele. Tentei ligar umas vezes para ele e não consegui. Mandei e-mails também e nada.

Saulo: Nora também está sem notícias.

Vera: Ela nos convidou para o Natal, Beca. De novo.

Saulo: E me prometeu que irá se comportar.

Os três riem. De repente a atenção de Saulo é chamada pela televisão. Ele se levanta, pega o controle e aumenta o volume.

Vera: É melhor você ligar para sua irmã.

21. INTERNA – NOITE – ÔNIBUS

Júnior estava se ajeitando para dormir no ônibus.

Yuri: Dormir no ônibus é ruim demais.

Júnior: Um dia um hotel vai pagar para a gente se hospedar neles.

Yuri: Nem sonhando, Andrade. Nem sonhando.

Júnior pega então seu celular e tenta sintonizar o sinal da televisão. Alguns dos presentes contestam, pedindo que ele desligasse ou abaixasse o volume. Ele o faz, e prestando muita atenção no que vê. Ele tenta ligar para sua mãe, mas o telefone estava fora de área. Ele continua a ver a reportagem.

22. INTERNA – NOITE – APARTAMENTO DE SARA – SALA

Sara estava assistindo ao telejornal, sentada no sofá, com Rafaela, Eduardo e Gabriel, que teclava freneticamente ao celular.

Gabriel: Mãe, você está diferente. Aconteceu alguma coisa?

Sara: Diferente? Como assim?

Gabriel: Sei lá. Diferente. É uma coisa boa.

Sara sorri, como se fosse coisa da cabeça de seu filho. Mas ela sabia que não era.

Rafaela: Mãe, quando der comercial você pode colocar no desenho?

Sara: Claro que posso. Já está acabando – diz, beijando a testa da filha.

Eduardo: Olha, mãe!

Sara olha para a televisão e vê Roberto sendo entrevistado.

Gabriel: Vou avisar à Larissa.

23. INTERNA – NOITE – APARTAMENTO DE TOMÁS – SALA

Tomás e Vitória estavam sentados no sofá. Enquanto Vitória assistia ao jornal na TV, Tomás não desviava os olhos de seu notebook.

Tomás: Desculpa, Vitória. Eu sei que você não gosta muito que eu traga trabalho para casa, mas o que Sara fez… Hoje mesmo! Tive que ouvir sermão do presidente da Papier! Como se a livraria fosse dele!

Vitória: Tomás…

Tomás: Ela me deixou sozinho lá, Vitória.

A atenção dos dois é, então, desviada para a televisão quando eles vêem Roberto.

24. INTERNA – NOITE – CASA DE NORA – SALA

Nora e sua mãe também assistiam à televisão. Nora falava com Saulo.

Nora: Não, eu sei. Estou vendo agora. Obrigada – e desliga.

Diva: Isso não é perigoso? – diz, falando de Roberto.

Nora: Não sei. Eu acredito que seja – diz, devagar, com o telefone ainda às mãos; as mãos, ao peito.

25. INTERNA – NOITE – CÂMARA DOS DEPUTADOS – ESCADARIA

Roberto encarava com coragem um bando de repórteres em polvorosa, querendo saber os rumos que a CPI irá tornar.

Roberto: Sem comentários.

Jornalista 1: Mas o senhor pretende dar andamento a CPI mesmo indo de contra a decisão do partido?

Roberto: Sem comentários.

Jornalista 2: O senhor não teme nenhum tipo de represálias?

Jornalista 3: Intra ou extra partidárias? Senhor Pellegrini!

Roberto: A CPI continua com ou sem apoio. Tenho medo de represálias tanto quanto os culpados tem medo de mim. Sem mais comentários!

Roberto se desvencilha dos jornalistas e desce as escadas da Alerj.

26. INTERNA – NOITE – APARTAMENTO DE ROBERTO – SALA

Carol e Larissa, como todos os outros, também assistiam ao telejornal.

Larissa: Era por isso que você estava com medo?

Carol não responde.

Larissa: Por isso os seguranças extras, né?

Carol também não responde. Mas continua olhando fixamente para a TV e abraça Larissa. O telefone de Carol começa a vibrar. Era Nora. Carol não atende.

27. INTERNA – DIA – APARTAMENTO DE REBECA

Rebeca estava em casa fazendo um lanche, quando o celular toca.

Rebeca: Alô?

Leila: Rebeca? Oi, é a Leila.

Rebeca: Oi! Diga…

Leila: Aconteceu uma tragédia. O fotógrafo que ia fotografar meu casamento resolveu se acidentar justo hoje. Preciso de alguém e só lembrei de você.

Rebeca: Nossa… mas..assim? Eu não sei se eu estou preparada.

Leila: Eu confio em você. – diz, tentando convencer a filha de Vera.

Rebeca: Tudo bem. Onde é?

Leila: O casamento é na Igreja do Carmo. Mas o meu dia de noiva é aqui no Spa Fitness.

Rebeca: Tudo bem. Sei onde ficam os dois. Estou indo.

Leila: Corre que já vai começar a minha massagem com pedras.

Rebeca: Ah.. claro… – diz, não acreditando no que acabou de ouvir. ­– estou indo.

28. INTERNA – DIA – ANDANÇAS – SALA DE REUNIÕES

Tomás reuniu os funcionários da livraria para ter uma conversa séria com eles sobre o futuro da Andanças.

Patrícia: Tomás, sua esposa ligou sobre o casamento.

Tomás: Liga de volta e avisa que vai dar tempo, por favor.

Patrícia consente e sai. Todos os funcionários já estavam reunidos na sala de reuniões da livraria, um tanto apertada. Tomás se levanta e dirige a palavra a seus colegas.

Tomás: Eu sei que o ano que passou não foi dos melhores. A saída da Sara e do Saulo, a venda da livraria, a morte do meu pai… Mas nós continuamos aqui. E tudo tem um lado bom. Nós temos que permanecer unidos, sempre, pensando nesse lado bom. Hoje fui comunicado de que ocuparei o cargo de presidente permanentemente. E quero que esse seja um marco na história desta livraria. E quero também que todos vocês aqui sintam-se seguros. Nós estamos seguros. E não temos que nos preocupar com nada, a não ser fazer nossos trabalhos da melhor forma possível. Hoje nós temos mais um de nossos famosos eventos e tudo, absolutamente tudo, tem que dar certo. Conto com vocês! E vocês podem contar comigo!

Todos batem palmas. Tomás fica feliz e se sente confiante com o futuro da livraria.

29. INTERNA – DIA – ANDANÇAS – SALA DE REUNIÕES

Nora bate à porta e entra.

Tomás: Hoje é o evento, né? Boa sorte!

Nora: Obrigada. Estou tão nervosa. Minhas mãos não param de tremer.

Tomás: Eu tenho certeza que vai dar tudo certo. Daqui a pouco eu vou lá embaixo ver como está ficando a arrumação das coisas e tal.

Nora vira-se, para sair, mas algo a detém. Ela volta a olhar para Tomás e o vê com o telefone ao ouvido. Ele tampa o bucal.

Tomás: Algum problema, mãe?

Nora vai até ele.

Nora: Eu vejo que você está sobrecarregado e eu não quero atrapalhar, mas…

Tomás: Não, não. Nem comece.

Nora: Mas, Tomás…

Tomás: Por que é tudo culpa minha? Júnior é culpa minha, agora é o quê? Eu tenho que agradecer Sara por ela ter me abandonado aqui?

Nora: Tomás, eu entendo perfeitamente como você está se sentindo. Mas se ponha no lugar da sua irmã. A vida de todos vocês passou por mudanças demais nos últimos tempos. A sua e a dela então, foram tantas coisas. Um perdeu um filho, a outra se separou, por exemplo.

Tomás: Por isso mesmo, mãe. Era o momento de nos unirmos, não de ela me abandonar.

Nora: Ela tem o direito de buscar algo novo na vida, Tomás. E se fosse você a deixar a Andanças para ser treinador de um time de vôlei, por exemplo? Você ia gostar da Sara te impedir?

Tomás: Péssimo exemplo, mãe.

Nora: Os exemplos são só exemplos, Tomás. Filho, torça pela felicidade da sua irmã. Ela merece. – Nora vai saindo.

30. INTERNA – DIA – SPA FITNESS

Rebeca chega ao spa onde Leila estava

Leila: Rebeeeeeeeeca! Até que enfim, graças a Deus.

Rebeca: Err.. oi.

Leila: Anda, vem aqui. Vai começar a maquiagem. Menina, olha como eu to nervosa. – diz, pegando a mão de Rebeca. – É muita ansiedade.

Rebeca: Calma, vai dar tudo certo. Mas, Leila… Quanto você ia pagar para o fotógrafo?

Leila: Ah, claro! O cachê. – ela se vira, ficando de costas para Rebeca – Vâââânia!

Uma mulher sai correndo de uma das salas.

Leila: Essa é a fotógrafa. Pague.

Vânia tira um cheque da bolsa e dá para Rebeca, que fica surpresa e feliz com o dinheiro, enquanto Leila inicia a maquiagem.

Leila: Rebeeeeeeeeeeeeca!

Rebeca: Já vou, já vou.

Rebeca começa a fotografar os momentos da noiva, que fazia poses e mais poses. Mesmo não sabendo se era aquele ramo que queria seguir, ela estava feliz em fazer o que gostava. E recebendo por isso.

31. INTERNA – DIA – ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA – GABINETE DE ROBERTO

[♫ – An olive grove facing the sea, Snow Patrol]

Carol e Roberto estavam discutindo sobre a entrevista que ele deu na noite anterior.

Carol: E você critica o partido em rede nacional? Isso não é política! Isso é radicalismo!

Roberto: Eles me abandonaram! Me deixaram sozinho!

Carol: Eles estão com medo!

Roberto: Estamos todos com medo! Eu não durmo direito há semanas, pensando em você, em Larissa, em mim! Tenho medo todos os dias, mas eu não sou fraco! Eu encaro as coisas de frente!­ – ele estava gritando.

O telefone toca. Era mais uma ameaça. Roberto avança violento para o telefone.

Roberto: PÁRA DE ME LIGAR! – e joga o telefone longe.

Carol vira-se de costas para ele e vai até uma poltrona muito grande para ela, perto da porta, onde ela se senta, frágil e acanhada. Ela passa a fitar o vazio. As duas mãos jaziam sobre os joelhos unidos sob os pés dispersos.

Roberto, após lançar o telefone longe, também vira-se de costas para Carol e se senta em sua cadeira. Ele passa a mão pelos cabelos, sem saber o que fazer.

Roberto: Eu estou sozinho. Não tenho ninguém com quem contar. Eu preciso de você, Carol. Porque eu não posso contar com mais ninguém. Eu preciso saber se eu posso contar com você. Eu posso?

Carol demora a responder, e quando o faz, olha para Roberto sem olhar efetivamente para ele.

Carol: Pode.

32. INTERNA – DIA – ANDANÇAS – CHÁ LITERÁRIO

[♫ – An olive grove facing the sea, Snow Patrol]

Nora estava sentada no meio de um semicírculo de cadeiras amareladas. Nela, deveriam estar os co-autores do livro, mas apenas Nora e mais uma apareceram.

À sua frente, um pequeno auditório, de umas 30 cadeiras, estava lotado. Na primeira fila, Tomás e Diva sorriam para Nora. Em seguida vinham Ester, Ágata e Mina, suas amigas, todas com um exemplar do livro em mãos. Emerson estava na outra ponta, desejando boa sorte para Nora com os polegares estendidos. As outras vinte e cinco cadeiras eram ocupadas por Walquíria, a diretora do orfanato e por vinte e quatro órfãos que vieram prestigiar Nora nesse momento tão importante.

Nora: Se eu já me tinha pensado como escritora? Não me lembro. Nós queremos tanta coisa, pensamos tanta coisa. Mas se você me perguntar se eu me imaginava co-publicando um livro com pessoas tão incríveis? – ela aponta para a co-autora do seu lado, que sorri, e olha para Emerson singelamente. Ele responde ao olhar. – Não. Não imaginava mesmo. E eu acho que isso deve servir de estímulo para todos vocês – diz, principalmente para seus alunos – O que nós fazemos nos define. Mas nós podemos fazer o que nós quisermos. O que nós quisermos. Nós podemos ser o que nós quisermos.

Walquíria: Alguém tem mais uma pergunta para Nora?

Aluno 1: De onde vem sua inspiração, Dona Nora?

Nora: Da minha família. Mas saibam de uma coisa: família não é só pais e filhos. São todas as pessoas queridas que fazem parte da nossa vida.Todas aquelas pessoas que você gosta de ter por perto. Vocês todos também são minha família. E eu sei que sempre posso contar com ela.

Os alunos de Nora batem palmas, levantam-se e correm para abraçá-la. Ela sai da cadeira e se ajoelha no chão para abraçar os alunos. Todos batem palmas. Tomás tira fotos.

33. INTERNA – DIA – ANDANÇAS – CHÁ LITERÁRIO

[♫ – An olive grove facing the sea, Snow Patrol]

Após a discussão com Tomás, Nora estava arrumando suas coisas. Seu celular estava em mãos, já que ela tentava ligara para Carol desde o dia anterior, mas não conseguia falar com ela. Suas amigas vêm cumprimentá-la.

Nora: Carol não me atende! Rrrr, como ela é teimosa.

Mina: Passa na casa dela, meu bem.

Nora: Eu tenho vergonha. Eu fui muito contra a mudança no começo e Roberto pode estar lá e…

Ester: Então está se preocupando por quê? Deve estar tudo bem.

Ágata: Você tem que se preocupar com o editor que não parava de olhar para você!

Nora fica boquiaberta.

Nora: Ai, pára!

Ester: E ela também não parava de olhar para ele!

Nora cora, envergonhada. Suas três amigas começam a distraí-la e ela esquece por um momento dos problemas de seus filhos.

34. INTERNA – NOITE – APARTAMENTO DE TOMÁS

Tomás mal abre a porta do apartamento e já começa a tirar a roupa. Ele e Vitória foram convidados para um casamento e ele sabia que estava atrasado. Ele corre para o banho.

Vitória: Não pense que eu não vou brigar com você por conta desse atraso, ok?

Tomás: Desculpa!! – grita do banheiro para a esposa.

Dez minutos depois, Tomás sai do banho e começa a vestir seu terno.

Vitória: Poxa, amor. Você sabia que tínhamos o casamento. Por que demorou tanto?

Tomás: Vi, eu estou sozinho agora. Tente entender. É trabalho demais e hoje ainda teve aquele evento da mamãe lá na Andanças.

Vitória: Ainda não me conformo da Sara ter saído de lá assim.

Tomás: Não preciso nem falar como estou me sentindo, né?

Vitória: Você já conversou com ela?

Tomás: Ainda não. Não tenho tempo.

Vitória observa o marido terminar de se vestir.

Tomás: E então?

Vitória: Lindo.

Tomás: Vamos.

Tomás pega Vitória no colo e a põe na cadeira de rodas.

35. INTERNA – NOITE – IGREJA

Tomás e Vitória chegam ao casamento de Leila e André.

Vitória: Nossa, como o André está diferente.

Tomás: Cortou o cabelo. Aquela mania dele de cortar o cabelo só em ocasiões especiais era triste. Quando nós passamos no vestibular, ele resolveu cortar o cabelo só quando se formasse. Apelidamos ele de Maria Bethânia.

Vitória: Nossa, você é terrível.

Tomás ri, quando um flash os surpreende.

Vitória: Rebeca?!

Rebeca: Oi.

Tomás: Trabalhando?

Rebeca: Exatamente.

Vitória: Que legal! Como eles te contrataram?

Rebeca: Eu conheço a Leila dos tempos de colégio. O fotógrafo que ela tinha contratado não pode vir e ela me chamou. E vocês? Convidados de quem?

Tomás: Do André. Nos formamos juntos.

Rebeca: A festa está linda. Mas deixa eu ir, a Leila pediu fotos de todos os convidados. E vocês dois não vão escapar. Podem se abraçar.

Tomás abraça Vitória e Rebeca registra o momento.

36. INTERNA – NOITE – IGREJA

Tomás e Vitória observavam a cerimônia. Ela, já estava chorando, pois sempre se emocionava em casamento. Tomás tira um lenço do bolso e dá para Vitória.

Vitória: Eu sempre me lembro do nosso casamento.

Tomás: Eu também.

Os dois se olham e ele pega na mão de Vitória. André e Leila começam a fazer as promessas da Igreja Católica. Tomás e Vitória repetem as palavras dos noivos, como se renovassem os votos do seu casamento.

Tomás: Eu te amo.

Vitória: Eu te amo.

37. INTERNA – DIA – JAVA CAFÉ

Carlos e Diego tinha combinado de se encontrar mais uma vez.

Diego: Desculpa o atraso. De novo.

Carlos: Tudo bem.

Diego: Você pareceu meio apreensivo ao telefone.

Carlos: É o meu cunhado. Apareceu na televisão fazendo ameaças. Sério, como alguém consegue ser tão idiota?

Diego: Nossa, ele é seu cunhado? Bem, ele está apenas defendendo o que ele acredita… Ele namora a Sara?

Carlos: Não, minha outra irmã, Carol.

Diego: Família grande!

Carlos: É. Grande até demais. E você?

Diego: Eu? Como assim eu?

Carlos: Irmãos e irmãs? Também tem família grande?

Diego: Ah, irmãos e irmãs… Tenho um irmão. Mais novo que eu.

Carlos: Minha irmã adorou você.

Diego: Sério?

Carlos: Aham.

Os dois ficam em silêncio de novo.

Carlos: Olha, eu não sei o que está acontecendo aqui.

Diego: Como assim?

Carlos: A gente saiu o quê? Três, quatro vezes. E nada.

Diego: Ahn…

Carlos: Olha. Eu acho que você não está procurando um namorado. E sim um amigo. Deus sabe o quanto eu preciso de um. Então eu acho que é melhor deixarmos as coisas assim.

Diego: Amigos?

Carlos: É, amigos. Te acho lindo demais para isso mas… – ri.

Diego dá um sorriso triste.

Diego: Desculpa.

Carlos: Está desculpado. É isso que amigos fazem, certo? É sério. Não faço idéia do que amigos fazem!

Os dois riem. Carlos encara Diego nos olhos e vê algo que não consegue entender.

38. EXTRENA – DIA – ESCOLA DE LARISSA – PÁTIO

[♫ – Time is running out, Muse]

Larissa caminhava pelo pátio sozinha e se sentia seguida. Todos os alunos olhavam para ela e para os quatro seguranças que marchavam atrás dela. Ela começou a se sentir desconfortável. O sinal anuncia que as aulas tinham terminado.

Segurança: Dona Larissa, recebemos instruções para levá-la direto para casa.

Larissa morde o lábio, apreensiva.

Larissa: Posso ligar para o meu namorado? Ele estuda perto daqui, chega aqui num instante.

Segurança: Sinto muito, dona Larissa. Seu pai não deixou nenhuma diretriz em relação a esse assunto.

Larissa: Por favor…

Naquele instante o telefone de Larissa toca, anunciando uma mensagem de texto. Era de Gabriel.

Larissa: Ele está ali fora me esperando! Ele pode ir para casa com a gente? Por favor?

Segurança: Dona Larissa…

Larissa: Se meu pai não disse nada, vocês devem fazer o que eu digo. Ele vem com a gente.

39. EXTERNA – DIA – ESCOLA DE LARISSA – ENTRADA / RUAS DO RIO DE JANEIRO

[♫ – Time is running out, Muse]

Larissa encontrou Gabriel encostado ao muro. Assim que a vê, Gabriel corre até ela. Os dois se beijam.

Segurança: Dona Larissa? – diz, abrando a porta do carro.

Gabriel e Larissa entram. Um dos seguranças foi no banco da frente junto com o motorista e os outros três foram num outro carro, mais atrás. O carro saiu.

Gabriel: Agora são quatro seguranças?

Larissa: Deve ser por causa do jornal.

Gabriel: Eu não entendi direito essa história… O partido não quis tomar partido na CPI, foi isso?

Larissa: Eu não sei mesmo. Papai e eu não conversamos sobre o trabalho dele. Talvez seja até melhor assim, acho.

Os dois se abraçam e continuam a conversar. O carro se encontra num cruzamento. Ele pára num semáforo. Alguns segundos mais tarde, o sinal muda do vermelho para o verde e o carro sai. De repente, vindo da rua perpendicular, um carro fura o sinal e se joga a toda velocidade no carro onde Larissa e Gabriel estavam. O motorista e o segurança bate sua cabeça nos vidro laterais, rachando-os. Larissa e Gabriel são arremessados para frente para o lado, mas presos pelo cinto, não se machucam muito.

Milésimos de segundo depois, um estrondo enche os ouvidos de Larissa e Gabriel, que estavam estupefatos com o que tinha acabado de acontecer. Um outro carro se chocara violentamente com o carro dos seguranças, que vinha logo atrás. O barulho fez com que Gabriel e Larissa despertassem. Gabriel fica atônito, imóvel, mudo. Larissa entra em pânico. Ao ver o motorista e o segurança, desespera-se.

Larissa: Ai meu deus! Ai meu deus! – ela desata seu cinto e se aproxima do banco do motorista, e tenta chacoalhá-lo para chamá-lo: – Seu João! Seu João! Ai meu deus!

Os olhos de Larissa estavam cheios d’água. Gabriel estava com o celular em mãos, já ligando para a ambulância. Tudo em vão. De repente, as duas portas do carro se abrem e Larissa e Gabriel são puxados dali.

Larissa: Obrigada! Muito obrigada! – agradece. Mas ao perceber os protestos e as tentativas de Gabriel para se libertar, ela percebe que não tinha sido resgatada.

Homem: Calada.

Continua…

Trilha Sonora

An olive grove facing the sea, Snow Patrol

Time is running out, Muse

7 Respostas to “Sem Olhar Para Trás”

  1. Julia Says:

    Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaafffff to pasma.
    Morte ao Roberto. Eu gostava dele mais ele tá osso.. Ele tá mto tosco. De verdade. To puta.
    E adorei o Sr. Sérvulo. Hahahaha.

    ;*

    1. osandrades Says:

      Nossa! Morte ao Roberto?! Dá mais uma chance a ele, vaaaai? Ele só estava tentando fazer a coisa certa…

      E que visitante ilustre o sr. Sérvulo, não?

      Obrigado pelos comentários!

      Filipe

  2. Gustavo Says:

    Salve galera!!!!

    Só tenho uma coisa a falar.

    PQP!!!!!!!!!!

    Que rabuda hein… Espero que não façam mal às crianças…

    Ainda bem que o Tomás não se aventurou com aquela zinha da Lavínia. Muito lindo o amor dele e da Vitória.

    Coitado do Carlos… Será que ela ainda não percebeu a chave de cadeia que é esse Diego??? É óbvio que o cara leva vida dupla. Ou é casado ou tem outro… E cá pra nós, meio suspeita a atitude do Marcelo… Aí tem coisa e aposto que o Diego está metido…

    Bem, que venha as cenas do próximo capítulo.

    [ ]´s.

    1. osandrades Says:

      Salve Gustavo!

      Vamos torcer mesmo para que nada aconteça ao Gabs nem à Lissa. Ninguém deveria passar por isso.

      Tomás e Vitória em perfeita sintonia de novo. Será que dura? Eles merecem que dure, né?

      Falando em merecer, será que o Carlos e a Sara não merecem relacionamentos menos problemáticos? Mas é claro, bambino!!! Será mesmo que tem tanta treta assim entre Marcelo e Diego? Vereeeemos… rs.

      O próximo epi está sensacional. Não perca.

      Abraço!

      Filipe

  3. lenonfernandes Says:

    Me dá uma raiva porque a teimosia do Roberto causou isso a Lissa e Gabs. Eu sei que ele tem a posição política, mas ele podia deixar isso pra alguém não tem a família na reta como ele tem. E a Carol avisou tanto a ele…

    Morri de rir com a cena no começo, elas com medo e jogando o celular na cabeça dele. Ele bem que mereceu…

    Nora no lançamento foi ótimo, ela merece que as coisas dêem certo para ela mesmo…

    Tomás ainda está chateado com Sara, mas eu acho que ele tinha que perceber que ela apenas queria um novo começo, ela precisava disso. E agora ele tem a empresa toda só para ele… kkkk

    Sara conhecendo um professor. Finalmente alguém que ela pode realmente sair…

    Depois de tudo, Carlos acabou arrumando apenas um amigo. Eu ainda estou preocupado com esse Diego, mas…

    Parece que Rebeca está achando seu novo trabalho. Tomara que ela se dê bem.

    1. Osandrades Says:

      Oi Lenon.

      Sim, Rebeca está mesmo achando seu rumo.
      Pois é, a Carol avisou, e os bandidos também. Podemos adiantar que o próximo episódio está emocionante.

      E porque todos estão pé atrás com o Diego? Será que o dedo podre do Carlos pra romances é tão podre assim?

      Abraços!

      Edízio

  4. Natie Says:

    CARAMBA! To chocada… haha… Nao imaginei q as ameaças fossem chegar realmente a uma ação… Mas confesso q imaginei q algo aconteceria depois dessa entrevista do Roberto… E chocada ainda, mtu chocada…

    As partes boas agora…
    Adorei ver a Sara interessada no professor… Tomara q evolua pra uma relação mais seria… Sera q ela leva ele pro Natal e poe cara a cara com o Fernando??

    Carlos e Diego… Acabou não dando em nada neh? Uma pena… Torcendo pelo Carlos!

    hahaha… Ri mtu da ex-colega da Rebeca… Tipo pirua total neh? E q coincidencia o noivo conhecer o Tomas! E por falar nele, tomara q ele consiga segurar as pontas na livraria… Apesar de eu achar q talvez, assim como o tio e a irmã, ele queira seguir um novo caminho…

    Sem mtas cenas do Junior, mas q bom vê-lo feliz com a banda…

    E sim, adoreiii as cenas iniciais com Carol apavorada! haha… Um estilo ‘todo mundo em pânico’…

    É isso… Megaaaaaaaa atrasada, mas vou tentar ler os 2 outros epis ainda hj! Indo pro proximo…

    Beijaao!

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